O corpo do cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, Arcebispo Emérito da Arquidiocese de São Paulo, chegou na noite desta quarta-feira (14) à Catedral da Sé, na região central, onde será velado. Arns morreu no fim desta manhã em decorrência de uma broncopneumonia, aos 95 anos.
O cardeal se destacou na luta pelos direitos humanos durante a ditadura militar.
O presidente da República, Michel Temer (PMDB), e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), decretaram luto oficial por três dias pela morte de dom Paulo Evaristo Arns.
Durante o período do funeral, acontecerão missas a cada duas horas. O corpo de Dom Paulo será sepultado na sexta-feira (16), após a celebração presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, às 15h.
Arns será o primeiro cardeal enterrado na cripta da Catedral da Sé. No espaço estão sepultados dois arcebispos, 11 bispos, três padres e o cacique Tibiriçá, primeiro cidadão de São Paulo, batizado e catequizado pelos jesuítas.
O último arcebispo enterrado no local foi Dom Josephi Gaspar, em 1942. A área foi fechada por volta das 15h e será reaberta para o enterro.Cripta é uma capela subterrânea. O espaço comporta, em média, 80 pessoas, sendo 55 cadeiras fixas e 30 colocadas durante cerimônias.
O comunicado da morte de Arns foi feito em nota divulgada pela Arquidiocese de São Paulo. O arcebispo metropolitano, Dom Odilo Scherer, afirmou em nota que Arns “entregou sua vida a Deus, depois de tê-la dedicado generosamente aos irmãos neste mundo”.
LUTA PELOS DIREITOS HUMANOS
Quinto de 13 filhos de imigrantes alemães, Dom Paulo Evaristo Arns nasceu em 1921 em Forquilhinha, Santa Catarina. Ingressou na Ordem Franciscana em 1939, e iniciou seus trabalhos como líder religioso em Petrópolis, no Rio de Janeiro.
Formou-se em teologia e filosofia em universidades brasileiras. Ordenado sacerdote em 1945, ele foi estudar na Sorbonne, em Paris, onde cursou letras, pedagogia e também defendeu seu doutorado.
Foi bispo e arcebispo de São Paulo entre os anos 60 e 70. Teve uma atuação marcante na Zona Norte da cidade, região em que desenvolveu inúmeros projetos voltados para a população de baixa renda. Em julho deste ano, foi celebrado os 50 anos de sua ordenação episcopal.
Ao longo de sua trajetória, trabalhou como jornalista, professor e escritor, tendo publicado 57 livros. Durante a Ditadura Militar, destacou-se por sua luta política em defesa dos direitos humanos, contra as torturas e a favor do voto nas Diretas Já.
Ganhou projeção na militância em janeiro de 1971, logo após tornar-se arcebispo de São Paulo, e denunciar a prisão e tortura de dois agentes de pastoral, o padre Giulio Vicini e a assistente social Yara Spadini.
No mesmo ano, apoiou Dom Hélder Câmara e Dom Waldyr Calheiros que estavam sendo pressionados pelo regime militar.
Em 1972 criou a Comissão Justiça e Paz de São Paulo e, como presidente regional da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), liderou a publicação do “Testemunho de paz”, documento com fortes críticas ao regime militar que ganhou ampla repercussão à época.