A perda de sustentação da aeronave (chamada de estol) ou uma possível diferença de potência nos motores, provocada manualmente pelo piloto ou por algum problema no avião, estão entre as hipóteses apontadas pelos especialistas para a queda de um King Air com sete pessoas a bordo no aeroporto de Campo de Marte, na Zona Norte de São Paulo, no domingo (29). Os especialistas analisaram os vídeos feitos antes, durante e depois da queda.

Seis pessoas sobreviveram e estão internadas em hospitais da cidade. O piloto Antonio Traversi morreu no acidente. A aeronave pertencia à empresa Videplast, que fabrica embalagens plásticas em Santa Catarina.

Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a configuração da aeronave como serviço aéreo privado exige apenas um piloto a bordo. No assento ao lado do piloto, um passageiro pode sentar, mas no caso, estava o copiloto.

Vídeos divulgados por testemunhas mostram que o piloto tentou pousar três vezes, arremetendo nas duas primeiras ocasiões. A primeira informação é de que o piloto não tinha certeza que o trem de pouso estava abaixado, e sobrevoou a pista para que a torre de controle confirmasse, visualmente, que o trem de pouso estava ativado. Na segunda tentativa de pouso, o piloto insiste em tentar confirmar se o trem de pouso estava abaixado, tocando-o levemente na pista.

Vídeo mostra acidente com avião no Campo de Marte, em SP

Na terceira tentativa de pouso, a aeronave vira para a direita, antes de capotar e colidir contra o solo, explodindo em seguida.

Segundo especialistas aeronáuticos ouvidos pelo G1, o fato de o piloto ter tentado três vezes o pouso, sem ter a certeza que as rodas estavam abaixadas, indica que ele poderia ter um problema no painel de controle que indica o travamento do trem de pouso.

“Poderia estar ocorrendo uma pane no sinal de indicação de travamento do trem de pouso, que é composto por três luzes: uma verde, que indica que o trem travou embaixo, o apagado, que indica que ele travou recolhido, e o vermelho, que indica que está em trânsito ou movimento ou solto ainda, sem travamento. Como o piloto pediu para a torre confirmar que o trem de pouso estava abaixado, tudo indica que ele não tinha certeza disso”, diz o Luis Claudio Lupoli, ex-investigador do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), e que apura as tragédias aéreas no Brasil.

Vídeo mostra avião arremetendo antes de cair no Campo de Marte, em SP

Concorda com ele o engenheiro aeronáutico formado pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) Shailon Ian. “As duas passagens baixas na pista indicam que o piloto queria alguma confirmação da torre, de que o trem de pouso estava baixado direito. Provavelmente ele tem dúvidas sobre isso. Foi uma situação que gera sobrecarga e muito estresse no piloto, que pode ter feito a aeronave estolar”, afirma o consultor.

O fato de o piloto ter tentado pousar três vezes e a preocupação com os seis passageiros a bordo, elevado o nervosismo na cabine de controle, dificultando ao comandante ter a ciência de todos os fatores envolvidos no voo e podendo ter levado a uma situação de estol a baixa altitude.

“Parece que, quando ele foi se preparar para fazer o pouso, em uma situação de estresse, aconteceu algo que estolou a aeronave”, acrescenta Ian. Neste caso, em que a aeronave perde sustentação, ela poderia girar

Vídeo mostra queda de avião que matou uma pessoa em São Paulo

Diferença de potência

Além do estol, o investigador Claudio Lupoli aponta que, pelo fato da aeronave, um bimotor King Air C90, ter virado para a esquerda antes de capotar, poderia indicar que o piloto tentou arremeter novamente ou então acelerou um motor antes do que o outro.

“Se um motor acelerou mais do que o outro, ou uma potência entrou antes que a outra, há uma assimetria de potência, fazendo com que a aeronave vire para o lado em que há menos potência, o que poderia explicar o motivo do avião ter virado para esquerda no pouso”, explica Lupoli.

A diferença de potência entre os motores poderia ser provocada por uma ação manual do piloto ao impor mais potência a um dos motores em relação ao outro ou por algum outro problema interno no motor. Na última tentativa de pouso, por exemplo, o piloto poderia ter um problema em um dos motores, sendo que apenas um deles pode ter ficado operando.

“Só a análise dos motores é que irá comprovar se eles estão perfeitamente e de modo similar na hora do pouso, ou se houve alguma falha no motor que provocou uma aceleração desregulada entre eles”, salientou Lupoli.

Os especialistas ouvidos pelo G1 acreditam que os seis passageiros sobreviventes, que estão internados em hospitais da capital paulista, tiveram “muita sorte”, pois, logo após tocar o solo, o avião pegou fogo e explodiu. A asa direita da aeronave foi queimada.

Avião ficou de cabeça para baixo e com rodas para o ar no Campo de Marte (Foto: Bombeiros/divulgação)

Avião ficou de cabeça para baixo e com rodas para o ar no Campo de Marte (Foto: Bombeiros/divulgação)

“Os passageiros deveriam estar conscientes da possibilidade de algo ocorrer e preparados, com cinto de segurança, tomando cuidado com a situação. Além disso, o combustível vazou para fora da aeronave, escorrendo pela pista, e provocando o incêndio já fora do avião”, diz Lupoli.

Para o engenheiro Shailon Ian, “foi Deus” que salvou os passageiros. “Era para todos terem morrido, o anjo da guarda deles estava de plantão”, assinalou o especialista. “Os bombeiros e equipes de resgate também agiram muito rápido.

A posição do piloto Traversi, a única vítima fatal do acidente, o estado do corpo dele e a causa da morte, se por fratura ou pelo fogo, irão ajudar a investigação a identificar os motivos dos demais passageiros terem sobrevivido sem danos. Isso porque a aeronave, ao virar, pode ter colidido primeiro contra o chão no lado em que o piloto estava sentado.

Quem são as vítimas:

  • Nereu Denardi – sócio da Videplast. Foi socorrido e levado ao Hospital do Mandaqui.
  • Geraldo Denardi – sócio da Videplast e irmão de Nereu. Internado no Hospital Santa Isabel, passou por tomografia e segundo a família, está consciente.
  • Enzo – tem 17 anos e é filho de Nereu. Internado no Hospital Santa Isabel, passou por tomografia e segundo a família, está consciente.
  • Aguinaldo Nunes – coordenador da Videplast. Foi socorrido e levado para o Hospital São Camilo. Estado de saúde é estável e sem previsão de alta.
  • Agnaldo Crippa – gerente da Videplast. Foi socorrido no Hospital San Paolo.
Avião cai no Campo de Marte (Foto: Fernanda Garrafiel/G1)

Avião cai no Campo de Marte (Foto: Fernanda Garrafiel/G1)

Fonte: G1/ SP por Tahiane Stochero, G1S

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