O Piauí perdeu nesta terça-feira um nome que se tornou um marco na nossa política: Myriam Nogueira Portela Nunes. Um marco por ser a primeira mulher eleita pelo Piauí para o Congresso Nacional; um marco pela coragem de romper com o figurino tradicional. Sim, porque Myriam chegou à política pelos caminhos de sempre: como mulher de alguém de renome. Mas foi além, tratando de fazer seu próprio roteiro de atuação e conseguindo se mostrar a partir de suas próprias ideias.

Foto / Arquivo pessoal

Myriam Portela com uma das filhas, a deputada federal Iracema Portela

Dona Myriam Portela vem de família tradicional, os Nogueira, parte da lista de clãs que têm presença proeminente na política do Estado há tempos. Casou-se com Lucídio Portella, um médico conhecido e muito respeitado que, além disso, era parte da família Portella, também poderosa e com uma das estrelas de primeira grandeza da política local – Petrônio. Com tanto aval, Lucídio terminou governador, indicado por um Palácio do Planalto que costumava ouvir Petrônio Portella.

É aí quando a luz própria de Myriam começa a ser notada além da elite piauiense. Com Lucídio governador (1979-1983), ela ganha a condição de primeira-dama do Estado. Abraça o papel tradicional, com uma atuação voltada para o amparo das comunidades mais desassistidas. Mas mesmo aí já mostra diferença, preocupando-se em fazer mais que distribuir enxovais de bebês e kits de higiene nos bairros. Quis também se preocupar em levar condições dignas de moradia para os esquecidos da periferia.

Ganhou projeção. Em 1986, quando Lucídio disputou a vice-governadoria na chapa com Alberto Silva, ela correu atrás de um mandato de deputada federal. Foi eleita. A primeira piauiense a chegar ao Congresso, como deputada federal constituinte. E outra vez ela saiu do figurino, desta vez bem mais. Na Constituinte, tomou posições que a distanciavam do padrão conservador das suas origens. Não por acaso, em 1989 – já separada de Lucídio – vai na contramão da maioria das elites do estado e apoia Mário Covas (PSDB) para presidente. Covas era do PSDB – e Myriam terminou migrando para o partido.

A condição de primeira deputada eleita pelo Piauí já daria um lugar na história da política estadual. Mas poderia ser um lugar menor, uma nota de pé de página. O que tira Myriam da nota de rodapé e a coloca no alto da página é sua atuação. Não assumiu o papel de “delegada”, de mera representante de um clã. Não. Ela mostrou que pensava por si. E alçou a voz. E procurou fazer seu próprio caminho.

Olhando retrospectivamente, pode-se dizer que não apenas passou por nossa história política. Foi além: passou por nossa história e deixou sua marca.

Fonte: Cidadeverde.com /Fenelon Rocha

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