Esta semana, um estudo da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Penssan) divulgou que o Piauí é o segundo estado brasileiro com o maior número de famílias vivendo em condição de insegurança alimentar grave. Isso significa dizer que 34% dos piauienses entrevistados têm dificuldade para comprar alimentos básicos. E muitas dessas histórias estão mais perto do que imaginamos.

No fogareiro, uma panela que nada tem dentro. A refeição do dia, até o momento, era incerta. Provavelmente, arroz e feijão. Com sorte, uma mistura, talvez ovo. Frutas e verduras não são muito comuns em casa. Na geladeira não é diferente. Apenas garrafas com água. O fogão, esse nem funciona. Há dois meses a família está sem gás.

O pequeno cômodo de pau a pique e barro, de quase 3m², abriga a dona de casa Vera Ferreira (24), o esposo, André Luís (30), e Edilson, de 1 ano e 8 meses, filho do casal. Os três moram há dois anos no Residencial Coruja, uma invasão localizada no Vale do Gavião, zona Leste de Teresina. É nesse espaço que está tudo que a família tem, que se resume a quase nada.


As condições de moradia em que vivem as famílias do Residencial Coruja, no Vale do Gavião, são precárias – Foto: Assis Fernandes/O Dia

O pouco dinheiro que André Luís ganha como pedreiro mal dá para comprar os alimentos básicos que a família precisa, especialmente o filho, que está em fase de crescimento. Vera está na expectativa em receber o Auxílio Brasil, R$ 600 que vão ajudar a comprar alimentos e pagar algumas dívidas. Enquanto o dinheiro não sai, eles vão se mantendo com bicos, ajuda de familiares e doações de cestas básicas.

“Meu esposo tem galinhas e patos, vendemos e vamos nos virando enquanto ele não recebe o dinheiro e enquanto eu não recebo o meu. É o que ajuda. O pai dele também recebe o Auxílio e ajuda quando pode. Antes o neném tomava leite, mas ainda bem que ele enjoou, porque está tudo muito caro. Agora ele come arroz e feijão, que é o básico. Ele não quer saber de onde vem, ele quer comer, e a gente tem que comprar”, conta Vera.


Vera Ferreira mostra que na geladeira há apenas garrafas com água – Foto: Assis Fernandes/O Dia

Apenas metade da casa tem telhado, a outra parte é coberta com uma lona, que não protege muito em dias chuvosos. A família até tenta se planejar para colocar telhas nesse outro pedaço da casa, mas não sobra dinheiro. “Quando a gente começa a se organizar para comprar, aparece uma conta e a gente gasta. Ainda bem que não estamos no período chuvoso. Ano passado foi horrível, molhou tudo, cama, berço, roupas, ficamos dentro da casa encolhidos”, lembra a dona de casa.

Sem gás há dois meses, a família utiliza um fogareiro construído dentro de casa. A única alternativa usada para preparar o alimento também coloca em risco a vida dos três. Vera sabe disso. Ela explica que evita usar o fogareiro à noite e que sempre tem o cuidado de apagar a brasa após o preparo da última refeição. Em geral, a dona de casa compra dois quilos de arroz, que dura somente dois dias.


Sem gás há dois meses ,no fogareiro, uma panela que não tem nada dentro – Foto: Assis Fernandes/O Dia

Contas se acumulam

Vera mal recebeu o Auxílio Brasil e já tem destino certo para o dinheiro: uma parte será usada para comprar alimentos e a outra parte vai para as dívidas. Uma delas será a conta de água. Recentemente a concessionária de água e esgoto instalou os contadores nos imóveis da comunidade e, segundo a dona de casa, as primeiras faturas dos moradores que já receberam chegaram a R$ 160. “É um valor alto e mais uma conta para pagar. Mas, vamos ver quanto vai vir, para podermos juntar e pagar, e o que sobrar comprar de comida”, relata.

O esposo de Vera, André Luís da Silva Sousa, é pedreiro e está trabalhando na construção de uma casa no Residencial Coruja. O serviço está sendo realizado como pagamento de uma dívida que ele contraiu com o proprietário do terreno. “Eu pedi emprestado R$ 600 para comprar comida e o vizinho me emprestou. Aí ele disse que eu poderia pagar a dívida construindo a casa. O dinheiro que ele me emprestou já acabou, mas eu continuo aqui construindo. Não é a primeira vez que eu faço isso. O desemprego está grande e quando não tenho dinheiro acabo recorrendo a alguém para me emprestar dinheiro”, confessa.


Sem emprego, André Luís conta que teve que pedir dinheiro emprestado  um vizinho – Foto: Assis Fernandes/O Dia

Com os bicos de consegue como pedreiro, André conta que consegue tirar, em média, R$ 600. O valor mal dá para comprar o básico para a família. Porém, de acordo com o pedreiro, sua maior preocupação não é ele ou a esposa, mas o filho pequeno. “A gente nem fica pensando na gente, mas no neném, que é pequeno e precisa comer. Às vezes, a gente recebe uma cesta básica da líder comunitária, o que também ajuda na alimentação. Com o auxílio que vai vir já é bom, porque ajuda a pagar as contas”, disse André Luís.

Sem dinheiro, sem remédios

Com o pai de André Luís, seu Otávio Luís da Silva (56), a situação não é muito diferente. Há três anos, ele sofreu um acidente de trabalho enquanto fabricava um portão, em uma metalúrgica, e precisou abandonar a profissão. Para se manter, ele faz pequenos bicos como pintor, mas nada que lhe cause muitos esforços, afinal, a lesão que sofreu na perna não lhe permite levantar muito peso.

Há cinco meses ele começou a receber o auxílio do Governo Federal, o que tem ajudado a comprar comida e seus medicamentos, que não são poucos. Além da lesão na perna, Otávio Luís é diabético e hipertenso e, por dia, toma quatro comprimidos. Os medicamentos são distribuídos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) gratuitamente, mas, quando estão em falta, é preciso desenvolver o valor.

“Estou há uma semana sem tomar o remédio para diabetes, e eu tomo três comprimidos por dia. O remédio custa R$ 28. Os R$ 600 do auxílio dá mal para mandar o básico, que é comer. Eu gasto R$ 400 com arroz, feijão, carne e verdura e os R$ 200 é para pagar as contas. Para completar, eu tento fazer bico”, diz Otávio.


Otávio Luís, 56 anos, é diabético e hipertenso, e o que ganha de auxílio ele compra com remédios e comida – Foto: Assis Fernandes/O Dia

Família pede emprego

Vivendo em uma situação delicada, a família tem contado com a boa vontade de vizinhos para se manter. A grande vontade deles é conseguir um emprego formal e garantir o alimento na mesa. “Eu já tentei procurar emprego, mas dizem que não estão contratando, pedem currículo mas nunca chamam. Gostaria de um emprego, seja de pedreiro ou até de serviços gerais de carteira assinada. Ter um dinheiro certo todo mês para trazer para casa e comprar comida para minha família”, disse André Luís.

Assim como o filho, Otávio também reside em um barraco feito de pau a pique e barro com menos 2m². Sem dinheiro, ainda não foi possível ampliar a casa e construir pelo menos um quarto. “Gostaria de ter um emprego, poder comprar minhas coisas, aumentar a casa.

Quem quiser ajudar a família, pode entrar em contato através do WhatsApp (86) 99922-1280 ou Pix 86998063524 (André Luís da Silva Sousa).

Fonte: Portalodia.com

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