A história da escrava Esperança Garcia ganhará as telas dos cinemas em 2021 através do cineasta oeirense Flávio Guedes, que está gravando na região de Picos, o filme “Uma Mulher Chamada Esperança”.

Radicado em São Paulo há alguns anos onde atua como bancário, Flávio que também e cidadão picoense, nunca deixou as artes cênicas de lado e ao longo dos anos vem produzindo vários filmes sempre com uma temática regional, retratando histórias e estórias do povo sertanejo, em especial do povo piauiense, e assim, nasceram o projeto de realizar este filme contando a história de resistência da negra que se se tornou a primeira advogada do Brasil.

Desde que comecei trabalhar com o audiovisual sempre fiz questão de contar nossas histórias piauienses. Temos uma cultura muito rica, com personagens reais e folclóricos que merecem ser conhecidos. E quando tive o primeiro contato com a história de Esperança Garcia, fui impactado por ela. Então, nos últimos anos me dediquei a pesquisa de sua carta, os relatos contidos nela, o contexto histórico piauiense e brasileiro no qual viveu, e sobre os demais personagens que teriam convivido com ela. E parti pra escrita do roteiro, abordando cada ponto relatado na sua carta. Acredito que essa mulher precisa ser conhecida por todos, e quero com esse filme, dar minha contribuição para isso”, conta Flávio Guedes.

Para a realização do filme, Flavio contou com o irrestrito apoio do grupo PBC, um dos mais longevos grupos teatrais do interior do Piauí, que há anos é capitaneado pelo poeta, diretor, ator e produtor cultural Sávio Barão. O elenco reúne atores e atrizes da região centro sul do Piauí como Picos, Oeiras, Paulistana, Simões, Vila Nova. O filme é protagonizado pela atriz Ruthe Barão e no elenco, o próprio Flávio Guedes, Sávio Barão, Deysiane Nunes, Davi Ângelo, Lameck Valentim, Arlete Sepúlvida, Durvalina Mendes, Heberty Soares, Regina Barão, Pedro Janderson, Josely Ecologista, Elton Arthur, Dan Tácito, dentre outros

Sobre a escolha do elenco, Flávio Guedes escolheu artista que já são da sua convivência teatral e também realizou alguns testes. “Eu queria muito ter comigo nesse elenco, alguns nomes que fazem parte da minha história e vivência teatral e no audiovisual. Então, convidei-os, porque sem eles esse filme não seria possível. Outra parte do elenco foi formada através de testes de interpretação, porque também, nas minhas produções, sempre busco abrir espaço para novos talentos, e sempre tenho boas surpresas, vindas dos mais diversos recantos do nosso Piauí. E tem sido incrível contar com cada ator, cada atriz, cada membro dessa produção, que tem acreditado no projeto e dado tudo de si, para o melhor resultado”.

Ruthe Barão, que interpreta Esperança Garcia, afirma que foi uma honra interpretar essa mulher ícone da resistência negra. ”Foi uma honra imensurável, poder ter o privilégio de interpretar essa mulher extraordinária, que compõe a história das mulheres pretas do Brasil, uma história de resistência negra que merece e deve ser contada e recontada. Me cobriu de orgulho e responsabilidade artística, eu, enquanto mulher, preta, piauiense, sinto uma grande responsabilidade ao poder encarnar a Esperança. Espero que as pessoas possam conhecer e nunca se esquecer da história dessa mulher ímpar”, disse a atriz picoense.

Fazer arte no Piauí, nunca foi e nem será fácil. E Flávio Guedes tem enfrentado um verdadeiro desafio para a realização deste projeto. “Como sempre, difícil, desafiador, exaustivo, principalmente por se tratar de um filme de época, em que cada objeto cênico, figurino, cenário, precisaria ser cuidadosamente reconstituído, e sem recursos, essa fidedignidade histórica pode ficar prejudicada. Mas certamente a própria história que está sendo contada, ecoará mais forte do que a falta de recursos para contá-la”.

O filme “Uma Mulher Chamada Esperança” está sendo gravado e também chegará às telas, num momento, em pleno século XXI em que o racismo ainda é uma chaga aberta no Brasil. Flávio Guedes diz que filme pode também poderá contribuir para combater esse mal, “Denunciando esse crime através dessa ficção inspirada nos fatos reais da vida de nossa Esperança Garcia. Juntando -se às vozes antirracistas, revelando essa história de luta, de resistência, de força e de esperança, ao Piauí e ao Brasil. E mostrando que daquele sistema vergonhoso de escravidão (e apesar dele), surgiu nossa primeira advogada brasileira!”

Ruthe Barão diz que “o filme pode contribuir de inúmeras formas, ao contar uma história que por muitos séculos foi silenciada, abrimos espaço para novas discussões, pesquisa e narrativas em torno da luta dos negros e das mulheres no processo histórico de construção do Brasil. Ao reconhecer uma mulher preta como a primeira advogada do Brasil (infelizmente com mais de 300 anos de atraso), temos mais uma, das diversas narrativas da história a ser contada nas escolas, junto com histórias como a de Zumbi, de resistência e consciência. Uma mulher que não se calou ao ser maltratada e “tentou” fazer valer os seus “direitos” de uma forma simples, porém poderosa que era a escrita, deixando assim um documento histórico, hoje tão importante e necessário para ligarmos os pontos das diásporas africanas no Brasil”.

A atriz diz ainda que enquanto mulher preta, interpretar a Esperança lhe chegou com um senso de dever muito forte, “como disse, essa história é muito cara para nós, que somos descendentes desse povo, tão rico e diverso, mas também, tão maltratado por um processo histórico tão vil e cruel. Ainda hoje, sentimos forte as marcas e heranças desse período escravocrata, que tanto explorou o povo preto. Portanto creio que essa história, como tantas outras, esquecidas pelo processo de silenciamento do orgulho negro, deve ser conhecida por todos os brasileiros. Enquanto atriz, estou nas nuvens!”, finaliza Ruthe Barão.

Após o término das gravações, que seguem ainda ao longo desse mês, em seguida vem a pós-produção, edição, finalização do filme e busca dos seus espaços de exibição, como salas de cinema, Festivais e Mostras de cinema. “Dada a complexidade desse filme, seu caráter histórico, e o próprio momento em que vivemos, ainda não temos uma previsão exata de sua finalização e estreia”, finaliza Flávio Guedes.

SOBRE ESPERANÇA GARCIA 

Esperança Garcia, uma mulher negra e escravizada que viveu em Oeiras, primeira capital do estado do Piauí, e que é hoje considerada a primeira advogada do país, por conta de uma carta que escreveu ao governador do estado em tom de petição, reivindicando a própria liberdade: o direito à própria vida.

O documento foi escrito e enviado em setembro de 1770 e vinha da fazenda Algodões, a pouco mais de 300 km de Teresina, onde Esperança vivia como mulher escravizada, então com 19 anos. Hoje sabe-se pouco sobre a história de Esperança, que foi casada, teve o primeiro filho aos 16 anos, não se sabe, por exemplo, como uma mulher escravizada foi alfabetizada, feito raro à época. Mas a coragem de seu gesto, a clareza de sua carta, a dura beleza de sua escrita, enviada para o governador do Piauí, Gonçalo Botelho, foram descobertas pelo historiador Luiz Mott em 1979, em cópia da carta no Arquivo Público do estado. A carta, pedia que as precárias leis concedidas aos escravos fossem respeitadas.

IMAGENS BASTIDORES DAS GRAVAÇÕES:

 

Fonte: R10 / Mural da Vila

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