Gustavo Petro tomou posse neste domingo, 7, como o primeiro presidente de esquerda da Colômbia, diante de centenas de milhares de pessoas que acompanharam a cerimônia em Bogotá. “Juro a Deus e prometo ao povo cumprir fielmente a Constituição e as leis da Colômbia”, disse o ex-senador e ex-guerrilheiro de 62 anos frente ao chefe do Congresso, na Plaza de Bolívar.

Com a chegada de Petro ao poder, a Colômbia iniciou uma nova era política no país em 200 anos de história republicana. O ex-guerrilheiro, que fez carreira na política como senador e prefeito de Bogotá, promete transformações profundas em um país desigual e sitiado pela violência do narcotráfico.

O ex-senador, que há três décadas deixou a violência armada, fez o juramento no início da tarde deste domingo, diante de uma extensa delegação de convidados internacionais. Petro substitui o impopular Iván Duque e governará por quatro anos um país de 50 milhões de habitantes, que pela primeira vez entrará no giro à esquerda da região.

Com a faixa presidencial, Petro herda os desafios de superar a crescente violência que ceifou a vida de mais de 560 defensores de direitos humanos desde 2016, a inflação mais alta das últimas duas décadas e a busca por consenso em um país dividido.

No entanto, vários setores temem ser afetados pelo novo governo e seu objetivo de realizar reformas na agricultura, na produção de energia, na polícia, na previdência e na arrecadação de impostos. Mas entre seus eleitores há esperança: Petro prometeu a eles uma nação com menos desigualdade, que garantirá os direitos de todos os seus cidadãos – especialmente os mais vulneráveis – e que dará prioridade ao meio ambiente.

“Vai começar o primeiro governo que esperamos que seja da paz. Que possa trazer à Colômbia o que têm faltado durante séculos que é a tranquilidade e a paz. Aqui inicia um governo que luta por justiça ambiental”, disse Petro no sábado, 6, em um ato na capital Bogotá.

Antes da posse oficial, Petro participou de uma primeira cerimônia simbólica de posse perante o povo indígena Arauhaco, em Serra Nevada de Santa Marta, no norte do país. Um dos mamos – a mais alta hierarquia da comunidade – pediu-lhe que respondesse às exigências da sociedade e deu-lhe uma bengala que representa a sabedoria.

Expectativas

Ele que foi o líder da oposição nas últimas décadas assume com uma bateria de reformas em mente e as expectativas de metade do país que optou por ele na votação de 19 de junho. Com Petro, a ambientalista Francia Márquez, de 40 anos, será alçada à primeira vice-presidente afro de uma nação que historicamente esteve governada pelas elites de homens brancos.

A Colômbia entra em um período de mudanças, com um esquerdista no comando, um Congresso a seu favor e uma oposição enfraquecida diante do declínio do ex-presidente Álvaro Uribe, entre 2002 e 2010, o chefe da direita tradicional do país.

Petro parte de uma posição invejável, com a maioria ampla no Congresso e, em relação às ruas, conta com apoio que nenhum governo anterior teve nos últimos anos, comenta o analista Jorge Restrepo, do Centro de Recursos para el Análisis de Conflictos (Cerac).

O presidente reuniu um governo de diversas tendências, com mulheres à frente de vários ministérios e a missão de levar à diante reformas que começarão no período legislativo a partir desta segunda-feira, 8. Entre elas estão o projeto que eleva os impostos aos mais ricos, reduz a arrecadação e tributa bebidas açucaradas, em busca de recursos para os projetos sociais.

“O nível de endividamento e o déficit fiscal que encontramos para o próximo quadriênio são críticos”, assegura Daniel Rojas, um dos coordenadores da comissão de transição do governo de Duque.

Ainda assim, Petro propõe reduzir a distância entre ricos e pobres, uma das mais amplas do continente junto com a do Brasil, com maior acesso ao crédito, subsídios e educação pública.

Desafios

Depois dos estragos da pandemia da covid-19, a economia recupera o crescimento apesar da inflação, que alcançou em julho 10,2% na variação interanual, o desemprego (11,7%) e a pobreza que castiga a 39% da população.

“As pessoas esperam que ocorra logo algumas das mudanças prometidas durante a campanha, que somado à situação econômica, gera um ambiente de tensão”, diz Patrícia Muñoz, cientista política da Universidad Javeriana.

Na frente internacional, Petro reativará as relações diplomáticas e comerciais com o governo de Nicolás Maduro na Venezuela, rompidas desde 2019, e buscará apoio para retomar as conversações de paz com o Exército de Liberación Nacional (ELN), a última guerrilha reconhecida no país.

Embora o acordo de paz com as Farc, antiga organização armada de extrema esquerda, tenha reduzido a violência, a Colômbia ainda não conseguiu extinguir o último conflito armado interno no continente.

Segundo a analista política Sandra Borda, o objetivo de melhorar as relações com a Venezuela está ligado à possibilidade desse país facilitar o diálogo com o ELN. Após ser eleito, Petro adotou uma postura mais moderada em algumas questões, disse, e buscou o diálogo com seus adversários políticos.

Além do ELN, poderosos traficantes como o Clã del Golfo, chefiado pelo capo ‘Otoniel’, extraditado este ano para os Estados Unidos, impõem sua lei em várias áreas do país.

O grupo anunciou neste domingo um cessar “unilateral de hostilidades ofensivas”, para buscar os “caminhos da paz”, a partir do início de “uma era distinta” na Colômbia, com a posse de Petro. “Por fim, termina o regime do presidente (Iván) Duque”, aponta no início o comunicado daquele que é considerado o maior grupo criminoso do país sul-americano.

As dissidências que se marginalizaram do pacto de paz também desafiam o estado graças aos recursos do garimpo ilegal e principalmente do narcotráfico.

Petro também recebe um país com a maior produção de cocaína do mundo, para o qual propôs repensar a fracassada política de proibição das drogas em conjunto com os Estados Unidos, principal consumidor do derivado da folha de coca.

Juntamente com o convite para dialogar com o ELN, Petro vai propor aos grupos armados que se rendam em troca de benefícios criminais, enquanto reforma ou dissolve a tropa de choque implicada em violações de direitos humanos durante a repressão aos protestos massivos dos últimos anos.

Também “veremos uma lenta mudança nas forças militares, mas acho que podemos afastar algum tipo de agitação pública, insurreição, greve ou queda na atividade operacional”, diz o analista da Cerac.

Foto: Reprodução / Twitter

Fonte: Cidadeverde.com / Por: Estadão Conteúdo

COMPARTILHAR

Comentários no Facebook

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui