O general Luiz Eduardo Ramos, ministro chefe da Secretaria de Governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), descartou a possibilidade de uma intervenção militar. Em entrevista à revista Veja, ele criticou as acusações de fascismo feitas à administração, mas alertou a oposição: “não estica a corda”.

Ramos é próximo de vários comandantes de unidades do Exército por ter sido instrutor da academia de cadetes. O ministro disse que a ideia de golpe não é ventilada entre os oficiais. “Eles têm tropas nas mãos. Para eles, é ultrajante e ofensivo dizer que as Forças Armadas, em particular o Exército, vão dar o golpe, que as Forças Armadas vão quebrar o regime democrático”, disse o ministro.

Foto: Anderson Riedel/PR

Embora Bolsonaro tenha frequentado atos antidemocráticos, o general reforçou a ideia de que o presidente não fez campanha pelo golpe. “O próprio presidente nunca pregou o golpe. Agora, o outro lado tem de entender também o seguinte: não estica a corda”, declarou.

Questionado sobre o que queria dizer, o ministro criticou as comparações entre Bolsonaro e o líder nazista Adolf Hitler. “O Hitler exterminou 6 milhões de judeus. Fora as outras desgraças. Comparar o presidente a Hitler é passar do ponto, e muito. Não contribui com nada para serenar os ânimos”, disse.

Ele também criticou o julgamento do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que analisa uma denúncia de abuso de poder da chapa formada por Jair Bolsonaro (ex-PSL) e o general Hamilton Mourão (PRTB) na eleição de 2018.

“Também não é plausível achar que um julgamento casuístico pode tirar um presidente que foi eleito com 57 milhões de votos”, afirmou.

“Dizem que havia muitas provas na chapa de Dilma [PT] e Temer [MDB]. Mesmo assim, os ministros consideraram que a chapa era legítima. Não estou questionando a decisão do TSE. Mas, querendo ou não, ela tem viés político”, disse.

O general minimizou o risco de impeachment, afirmando que “Rodrigo Maia [presidente da Câmara] disse que não vai pôr para votar os pedidos contra Bolsonaro”, e pediu que o TSE assuma postura semelhante.

“Se o Congresso, que historicamente já fez dois impeachments, da Dilma e do Collor, não cogita essa possibilidade, é o TSE que vai julgar a chapa irregular? Não é uma hipótese plausível”, concluiu.

Na entrevista, Ramos revelou que se infiltrou em uma manifestação contra o governo Bolsonaro, apenas “observando o pessoal”. Ele disse que os protestos não o preocupam, mas que discorda de os manifestantes usarem roupas pretas.

Para o ministro, “eles não usavam vermelho para não pegar mal. Mas me pareceu que eram petistas”. O general ainda afirmou que pedirá para ser transferido para a reserva do Exército, para que suas decisões como ministro não sejam associadas às Forças Armadas.

Ele citou a vez em que acompanhou o presidente em um ato favorável ao governo e que atacava o Congresso Nacional e o STF (Supremo Tribunal Federal).

“Fui muito criticado no dia seguinte, inclusive pelos meus companheiros de farda. Não me sinto bem. Não tenho direito de estar aqui como ministro e haver qualquer leitura equivocada de que estou aqui como Exército ou como general.

“Por isso, já conversei com o ministro da Defesa e com o comandante do Exército. Devo pedir para ir para a reserva. Estou tomando essa decisão porque acredito que o governo deu certo e vai dar certo. O meu coração e o sentimento querem que eu esteja aqui com o presidente”, disse Ramos.

A ida de Ramos à reserva, segundo o general disse à reportagem, foi porque ele quer se sentir “um cidadão”. “Eu vi a coisa do general americano, faz todo o sentido”, disse, em referência ao pedido de desculpa do chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas dos EUA, Mark Milley.

O militar pediu desculpa por ter participado de uma caminhada com o presidente Donald Trump, um ato político contra os manifestantes antirracismo em Washington. “Eu também estava sem lugar para voltar ao Exército agora. A janela seria em julho, ir para o Rio, mas não é o caso”, afirmou o general.

A reflexão de Ramos vai ao encontro de um desconforto grande no serviço ativo das Forças com a excessiva identificação entre os militares e o governo Bolsonaro.

Agora, sobra em cargo de primeiro escalão o ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello.

Ele vive uma situação inusitada: é hierarquicamente superior no governo ao comandante do Exército, Edson Leal Pujol, mas seu subordinado -é um general de três estrelas, enquanto Ramos ostenta quatro, que simbolizam o topo da carreira.

Os incômodos na ativa são conhecidos e pioraram quando Bolsonaro cogitou trocar Pujol por Ramos, algo que o ministro nega ter acontecido.

O secretário de Governo acaba de perder poder, com a retirada da área de propaganda institucional de sua pasta para colocá-la no recriado Ministério das Comunicações.

Ramos minimiza isso. “Esquece, falei hoje [sexta] com o presidente. A relação com ele continua sólida como sempre. Sempre que o presidente demonstra apreço por mim, aparecem esses boatos”, disse.

Parlamentares da oposição reagiram ao que consideraram uma ameaça do ministro de Bolsonaro. Presidente nacional do PT, a deputada Gleisi Hoffmann (PR) contestou, em uma rede social, o alerta de Ramos.

“E o que é esticar a corda general? Investigar os crimes praticados pelo presidente q tutelam? Julgar as ações de crimes eleitorais praticados pela chapa Bolsonaro/Mourão?”, escreveu. “Abrir um dos + de 30 processos de impeachment q estão na Camara? Isso chama-se ameaça.”

O líder do PSB na Câmara, deputado Alessandro Molon (RJ), também criticou as declarações de Ramos. “O ministro diz que não haverá golpe, mas condiciona isso a calar a Oposição. Ou seja, faz uma ameaça caso Bolsonaro não tenha carta branca para continuar rasgando a Constituição”, disse.

André Figueiredo (PDT-CE), líder da oposição na Câmara, rebateu o ministro. “Pode ter certeza que esticaremos o quanto for necessário pra barrar todas as atrocidades deste desgoverno incompetente e genocida. E a melhor corda pra isso se chama IMPEACHMENT!”, afirmou, também em rede social.

Ex-aliado de Bolsonaro, o deputado Alexandre Frota (PSDB-SP) questionou, em rede social, se a ameaça de Ramos era ao “povo brasileiro” ou aos que não “compactuam com as mentiras e armações de um Governo caótico que precisa comprar as pessoas, e abrir mão das promessas para Governar”. “Um escândalo atrás do outro. E agora vem com esse papo de esticar a corda”, criticou.

Fonte: Cidade Verde / UOL/FOLHAPRESS

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