Os nascidos em janeiro com saldo em contas ativas ou inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) receberão, hoje (29), o crédito de R$ 1.045 em conta-poupança digital. A possibilidade de retirada do dinheiro, instituída por meio da Medida Provisória 946/2020, é mais uma estratégia para tentar minimizar os impactos econômicos da pandemia. Mas realmente vale a pena sacar o valor mesmo que, no momento, ele não seja imprescindível para garantir o básico?

De acordo com o professor do curso de Economia da Universidade de Fortaleza, o economista Allisson Martins, vale, sim. “Apesar da rentabilidade do FGTS ser de 3% ao ano e atualmente apresentar performance superior a poupança, Tesouro Selic e investimentos atrelados ao CDI, a recomendação de saque permanece, sobretudo em razão da restrita liquidez do Fundo de Garantia, pois os saques do FGTS são permitidos apenas em condições específicas”, justifica.

Além disso, o economista também avalia que a melhor performance do FGTS ante outras aplicações não deve durar muito tempo. “Deve ser momentânea, fundamentalmente em decorrência da política monetária adotada pelo Banco Central, que em breve deverá apresentar tendência de elevação dos juros básicos da economia”, pontua.

Saque do recurso está limitado a R$ 1.045 e deve dar algum fôlego à economia Foto: Fabiane de Paula

Dívidas

Ao resgatar o dinheiro, o consumidor deve priorizar o pagamento de dívidas em atraso e a criação de uma reserva de emergência, que deve ser formada preferencialmente em um produto com alta liquidez. Isso vai permitir o resgate rápido diante de algum problema inesperado. Quitadas as dívidas em atraso e criada a reserva de emergência, Allisson Martins sugere o ataque às dívidas em curso, a exemplo de um empréstimo. “O consumidor pode utilizar a estratégia ‘menos é mais’: caso ele tenha mais de um empréstimo, deve-se avaliar qual apresenta menos prestações a serem pagas, pois ao liquidar mais rapidamente a dívida, o consumidor abre espaço financeiro para saldar as demais”, diz.

Ele reforça que outra estratégia de ataque às dívidas é a “avalanche”. “Deve-se avaliar qual apresenta maior taxa de juros e então o foco deve ser eliminar essa dívida, pois a bola de neve dos juros compostos está atuando contra suas finanças pessoais”, destaca o economista.

Risco maior

Se o beneficiário não precisa do dinheiro para garantir o básico, possui reserva financeira e se encontra em uma situação mais confortável, pode buscar conhecimento e optar por um risco um pouco maior. “Para as pessoas que têm a capacidade de investir, existem diversos produtos, a exemplo da renda variável, como as ações e fundos imobiliários, que possibilitam uma rentabilidade mais elevada, com poucos recursos, mas com riscos de perdas maiores”, pondera o economista.

Allisson Martins frisa, entretanto, que é preciso estar atento à escolha do ativo e a possíveis taxas envolvidas na operação, como taxas de custódia e corretagem. “O mercado financeiro, sobretudo de investimentos, avançou muito nos últimos anos, de maneira que se recomenda procurar instituições financeiras mais adequadas a cada perfil. Existem instituições que dispõem de diferentes produtos para investimentos, mas com custos, enquanto outras instituições possuem custos irrisórios e até inexistentes, mas com produtos de investimentos e serviços mais restritos”.

O pesquisador na área de finanças pessoais e comportamentais da Universidade Federal do Ceará (UFC), Érico Veras Marques, lembra que boa parte das famílias está com problemas financeiros por causa da crise provocada pelo coronavírus.

“Muitas estão utilizando reserva de emergência nesse momento, então pelo menos ter esse dinheiro em um local que você possa retirar facilmente caso precise pode ser interessante”.

Ele avalia que os beneficiários em situação financeira mais confortável e que provavelmente não vão precisar do valor em um curto prazo podem buscar opções que não necessariamente oferecem um risco maior e contam com rentabilidade mais interessante ante a Selic (2,25% ao ano), a exemplo dos pré-fixados.

Ao escolher a aplicação, entretanto, o investidor não deve fazer a retirada antes do prazo estipulado pelo produto ou vai perder dinheiro. “Também tem fundos multimercados que pagam 0,5% ao mês”, detalha Veras Marques.

Ele reforça que o tempo de grandes retornos com a renda fixa acabou. “Ela é muito mais no sentido de ter uma reserva do que algo que de fato gere renda. O investidor teria que procurar uma aplicação muito melhor”, diz.

O pesquisador frisa que usar o recurso para compras à vista com desconto também pode ser interessante. “Pode ser utilizado para comprar algo que o consumidor esteja necessitando e que o pagamento à vista daquele produto se traduza em um bom desconto”, explica.

O economista e presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-CE), Ricardo Coimbra, também acredita que uma parcela significativa dos beneficiários que sacará o valor está com dificuldade de honrar os compromissos e, para essas pessoas, vale a pena utilizar o dinheiro.

“A diferença entre a remuneração do FGTS para a poupança, por exemplo, vai ser pouco percebida. Para ter realmente uma diferenciação no retorno uma alternativa é a renda variável”, diz ele.

“Então se a pessoa não está precisando daquele dinheiro, ela pode ir em busca da renda variável para ter um retorno mais significativo, porque na Poupança ela terá uns R$ 2 ou R$ 3 de diferença. Em termos monetários, não é uma variação tão significativa”, diz, acrescentando que, em relação à Selic, a situação não é muito diferente.

Começa a ser pago hoje (29) o crédito de R$ 1.045 do FGTS, e especialistas recomendam aos beneficiários com dívidas em atraso usar o recurso para quitar os débitos. Além disso, falta de liquidez do FGTS conta como vantagem para outras aplicações.

Fonte: Diário do Nordeste

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