Manuela d’Ávila causou polêmica ao amamentar a filha em sessão da Assembleia do RS Há quase um mês, no dia 17 de fevereiro, a deputada estadual Manuela d’Ávila (PCdoB) decidiu não concorrer à prefeitura de Porto Alegre (RS) para se dedicar a Laura, sua filha de seis meses.

manuela

Em seu Facebook, Manuela explicou a decisão: “São mais de onze anos de dedicação às causas que julgo corretas para contribuir com o desenvolvimento do Brasil e a construção de um futuro melhor. Dentre essas causas estão, justamente, aquelas que dizem respeito ao desenvolvimento de nossas crianças na primeira infância. Minha filha Laura tem apenas cinco meses. Sei o quanto ela precisa de mim em seus primeiros mil dias, fundamentais para o desenvolvimento”.

E essa postura de Manuela se refletiu em todo o seu trabalho. Desde que retomou as atividades após os quatro meses de licença maternidade, Manuela passou a levar Laura em seus compromissos parlamentares para não deixar de amamentar a filha antes do tempo recomendado pelos médicos.

Além disso, a deputada levantou a bandeira do direito à amamentação em locais públicos — e foi uma das autoras da lei que proíbe estabelecimentos do RS de impedir que uma mãe amamente seu filho. Em entrevista ao R7 para o Dia Internacional da Mulher, a deputada falou sobre a defesa dos direitos da mulher, as críticas que recebe por levantar algumas dessas bandeiras e a importância de debater esses assuntos atualmente.

Leia:

R7: Assim que você voltou ao trabalho após o nascimento da Laura, sua primeira filha, você passou a levá-la para suas atividades. Foi uma decisão natural?

Manuela d’Ávila: Não foi fácil, porém  foi natural a decisão de levar a Laura comigo para as atividades, uma vez que tive quatro meses de licença [maternidade] e todo mundo sabe que OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda até o sexto mês o aleitamento materno. Portanto, eu não iria desmamá-la para voltar ao trabalho na Assembleia e comecei a levá-la para as minhas agendas, para os meus compromissos, sendo apoiada pelo meu marido nos espaços em que ela não está comigo.

R7: Como tem sido a reação das pessoas e qual a importância dessa atitude?

MD: Evidente que as pessoas estranham, mas é necessário que a gente denuncie as dificuldades que as mulheres têm em conciliar a maternidade com a volta ao trabalho, ao mundo do trabalho. É importante que nós denunciemos que é impossível manter a amamentação se as nossas creches não aceitam o leite materno porque dizem que é mais difícil de conservar do que o leite em pó. Então é preciso dizer que a orientação da OMS, que reduz custos em saúde e aumenta a segurança da criança, de amamentação até os dois anos é praticamente impossível de ser cumprida na nossa sociedade por todas as mulheres e é uma luta que todos nós travamos. Então acho que, ao mesmo tempo que causa estranheza, a Laura humaniza os ambientes.

R7: E a decisão de não concorrer à prefeitura neste momento para se dedicar a maternidade?

MD: Acho que foi natural a decisão de não concorrer à prefeitura em função do que eu acredito das necessidades da Laura no seu primeiro ano de vida e da dedicação que ela exigirá de mim. Uma das maiores diferenças entre ser deputada e ser prefeita, porque não se trata apenas da campanha, mas trata-se da possibilidade de vitória, é que o deputado é dono da própria agenda e o prefeito não é. Seria mais ou menos como comparar um trabalhador autônomo, que pode começar a trabalhar um dia às 7h e no outro às 9h com um trabalhador de carteira assinada que deve bater o ponto. Então o prefeito necessita de dedicação exclusiva à cidade, na minha opinião, principalmente frente aos desafios de uma cidade como Porto Alegre, que são gigantescos. Também existe algo que é importante que é o fato de eu não me julgar insubstituível, eu represento um projeto, outros homens e mulheres podem representar esse projeto também.

R7: Qual a importância de assumir uma postura como essa de levar sua filha com você nessas ocasiões? Acredita que isso encoraja outras mulheres a fazer o mesmo?

MD: Sim, tenho visto muitas mulheres se encorajarem a amamentar em público, a fazer discussões que são importantes para a gente em função de cada mulher que se expõe a essa situação. Então uma encoraja a outra e não apenas eu encorajo algumas.

R7: Como você lida e vê as críticas sobre essas atitudes que você tem tido? O que isso “revela” sobre a sociedade em que vivemos?

MD: Talvez por eu ter mandato desde os 22 anos eu me acostumei a lidar com as críticas, as pessoas não precisam gostar de mim, mas devem respeitar a mim e as minhas escolhas. O fato de eu decidir não concorrer à prefeitura, também tem feito muitas das críticas das pessoas se esvaziarem, porque muitas diziam que tudo isso era uma postura oportunista minha de carregar a Laura para ganhar visibilidade e, ao abrir mão de uma disputa em que eu estava tão bem posicionada, mostro que é exatamente o contrário.

R7: O que é importante ser lembrado ou comemorado no Dia Internacional da Mulher?

MD: Oito de março é momento de comemoração de todas as conquistas das mulheres, o espaço no mercado de trabalho, a representação política, mas é também um momento de reflexão sobre o quão limitadas ainda são essas conquistas. Então o fato das mulheres receberem em média 33% a menos de salário, de sermos apenas 8% no parlamento, de nós termos um dos índices maiores do mundo de violência contra a mulher no Brasil… Então mais do que um dia festivo, é um dia de reflexão.

R7: Discussões e conquistas das mulheres ganharam espaço nos últimos anos, tanto no noticiário como nas redes sociais, mas como você vê os avanços reais e a situação da mulher no Brasil hoje?

MD: Faltam muitos passos ainda para igualdade entre mulheres e homens no Brasil. O tema dos baixos salários, assim como a falta de reconhecimento do Estado com relação à função social da maternidade — portanto não investir em equipamentos como creches e licença maternidade, que nos permita conciliar a amamentação, por exemplo, com a volta ao trabalho — a baixa representatividade política, violência, tudo isso são apenas provas de que a situação da mulher ainda é muito frágil na sociedade brasileira e que o machismo é gigantesco.

(informações:R7)

 

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