O discurso de Gilmar Mendes em torno da revolta generalizada por causa de sua ida a Portugal com Temer é algo que vai para a antologia da vida política nacional pós-golpe.

“Meu compromisso é com a Constituição. É com a lei”, disse ele ao Blog do Moreno.

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“A maior prova de que o presidente Temer e eu temos uma relação altamente republicana está justamente no fato de ele, sabendo que fui eu que reabri esse processo, mesmo assim ter me convidado para integrar a comitiva”.

Ele “explicou” o que aconteceu. “Eu estou de férias em Portugal. Precisei vir ao Brasil para resolver problemas pessoais. O presidente me convidou para voltar com ele”, falou.

“Chegamos em Lisboa por volta das quatro da manhã. A cerimônia ocorreria horas depois. Desembarquei com uma crise de labirintinte. E por isso não fui.”

E deu uma amostra de seu modus operandi:

Se aceitar caronas, convites para almoçar e jantar comprometessem a atividade de cada um que os aceitasse, seria impossível trabalhar em Brasília. Quantas vezes sou convidado, por exemplo, para almoçar ou jantar com jornalistas e empresários de comunicação e isso nunca interferiu no trabalho deles nem no meu. Sou às vezes muito e até injustamente criticado pela mídia. E nem por isso deixo de atender seus convites.

Noves fora tudo — o desrespeito à liturgia do cargo, o conflito de interesses, os “problemas pessoais” não esclarecidos, o custo para o erário, a confusão entre público e privado, o silêncio de Temer sobre o caso —,  Gilmar força a mão para que as pessoas encarem como absolutamente normais esses acidentes éticos pavorosos.

Não, não é uma coisa ordinária a quantidade de vezes em que ele aceita convites de “jornalistas e empresários”, sempre os mesmos, sempre do mesmo lado, e não é verdade que isso não interfira no trabalho deles e na agenda política brasileira.

É comum para ele. Não é a primeira vez e não será a última em que GM toma uma boleia do gênero.

Em 2009, usou o famoso helicóptero do estado de Minas Gerais, uma das aeronaves que Aécio Neves tomou como suas durante seu governo.

Foi em Belo Horizonte e está registrado na planilha com os vôos realizados durante os 7 anos e três meses da administração aecista, entre 2003 e 2010.

Aécio se apropriou de um Citation, um Learjet, um helicóptero Dauphin e um turboélice King Air como se fossem de sua companhia de aviação.

Foram 1430 viagens ao todo, 110 com pouso ou decolagem do aeroporto de Cláudio, construído nas terras do tio Múcio Toletino, que ficou com a chave.

Em pelo menos 198 vezes ele não estava a bordo. Os aviões e o helicóptero carregaram figuras como Delcídio do Amaral, Roberto Civita (para visitar com a mulher um museu em Brumadinho), José Dirceu, Luciano Huck, “Roberto Marinho” (em email ao DCM, a advogada de João Roberto Marinho, dono da Globo, nega que seja seu cliente), Ricardo Teixeira, além de toda a família e amigos.

De acordo com o documento obtido pelo DCM através da Lei de Acesso à Informação, Gilmar, então presidente do STF, pegou sozinho o Dauphin no dia 23 de junho.

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Naquele dia, segundo seu site oficial, ele recebeu uma medalha: “Do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região, concessão da Medalha da Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho Desembargador Ari Rocha, no de grau Grã-Cruz. Belo Horizonte/MG”.

A página de GM sobre suas premiações diz o seguinte: “Gilmar Mendes possui diversas menções honrosas recebidas, em especial pelos serviços prestados à cultura jurídica, como defensor das garantias do Estado Democrático de Direito e da altivez do Poder Judiciário Brasileiro, e pelo reconhecimento em homenagem aos relevantes serviços prestados à Justiça Brasileira.”

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Fonte: D C M/por Kiko Nogueira

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